Inflação e desemprego, conheça a curva de Phillips
- 13 de dezembro de 2023
- Postado por: Willian Capriata
- Categoria: Economia
Uma análise empírica das relações entre índices de inflação salarial e índices de desemprego foi feita por A. W. Phillips em 1958, no Reino Unido.
Ele demonstrou que havia uma relação de trade-off entre a inflação e o desemprego, e que estavam associadas às políticas contracionistas sobre a demanda agregada que era implementada para reduzir os níveis de inflação.
Entre as políticas de controle inflacionário, a mais clássica é aquela que faz um “choque sobre a demanda agregada”. Tal medida prevê, entre outros mecanismos de retração da demanda agregada, o aumento dos juros e a elevação da carga tributária.
Essas medidas têm impactos negativos sobre a geração de emprego e renda.
Esta é uma condição de conflito, pelo menos do ponto de vista político, quando se colocam variáveis de grande repercussão social e se opta pela redução da inflação gerando para isso um aumento nas taxas de desemprego.
Ou então a situação inversa – para aumentar o nível de emprego, políticas expansionistas, como a redução nas taxas de juros, podem acarretar uma elevação nos índices de inflação.
Qual é a relação entre crescimento e inflação? A forma mais tradicional de verificar essa relação é a chamada Curva de Phillips, segundo a qual existe uma relação inversa entre taxa de inflação e taxa de desemprego. Quanto maior a primeira, menor será a segunda e vice-versa. Assim, se o governo quiser reduzir a taxa de desemprego por meio de uma política expansionista, ele acabará gerando mais inflação.
Para analisar a curva de Phillips, considere-se o conceito de taxa natural de desemprego. Esta corresponde à taxa de desemprego quando a economia se encontra no produto potencial, isto é, produto de pleno emprego. Quando a economia está na taxa natural, pode-se assumir uma igualdade entre oferta e demanda agregada, não existindo pressões para alteração dos preços. Quando a taxa de desemprego for superior, significa que existem fatores de produção desempregados, excesso de oferta; assim, haverá uma pressão por queda nos preços. E, quando a taxa de desemprego for inferior à taxa natural, estarão faltando fatores e haverá excesso de demanda, pressionando a elevação dos preços.
Quando a taxa de desemprego for igual à taxa natural, a taxa de inflação será zero. A inflação será positiva se o desemprego estiver abaixo da taxa natural e será negativa (deflação) se o desemprego estiver acima. Essa relação pode ser vista no gráfico a seguir:
Se essa relação for estável, abre-se a possibilidade para o governo manter a economia sempre com uma baixa taxa de desemprego, desde que aceite determinada taxa de inflação. Tal visão foi criticada por vários autores por desconsiderar as expectativas dos agentes econômicos. Esses autores alegam que, quando se tem uma inflação recorrente, os agentes passam a se antecipar à inflação, remarcando seus preços sem alterar a quantidade produzida. Com isso, ampliaram a Curva de Phillips para incorporar as expectativas.
Assim, a taxa de inflação em dado período depende de quanto os agentes esperam de inflação e do nível de atividade econômica. Com o termo das expectativas, mesmo com a taxa de desemprego na taxa natural, pode haver inflação simplesmente porque os agentes acreditam que haverá inflação. Quanto maior a inflação esperada, maior será a taxa de inflação para uma mesma taxa de desemprego.
Outro elemento que pode ser incorporado à curva de Phillips são os choques de oferta. Estes referem-se a choques que ampliam os custos de produção das empresas. Alguns exemplos são: choque do petróleo (aumento do preço do barril do petróleo por decisão do cartel de produtores), desvalorização cambial que aumente o preço das matérias-primas importadas, aumento salarial descolado dos ganhos de produtividade, elevação nas tarifas públicas (pedágio, eletricidade etc.), quebra de safra agrícola etc. Pode-se considerar que esses choques não sejam previsíveis, portanto, são um elemento aleatório na curva de Phillips.
Com isso, têm-se as três fontes que podem gerar inflação: a expectativa de inflação, a inflação de demanda e a inflação de custos (choque de oferta).
Portanto, se a inflação esperada e a inflação real são iguais, a economia permanece com o PIB de pleno emprego e o nível de preços aumenta. Se o aumento da demanda agregada for maior do que o esperado, duas coisas poderão acontecer: a) o nível de preços aumenta mais do que o esperado, ou seja, a inflação real é maior do que a inflação esperada; e b) o desemprego diminui para um nível abaixo de sua taxa natural. Confira essa relação no gráfico da curva de Phillips abaixo:
A diminuição do desemprego no curto prazo, muda o desemprego de sua taxa natural ao longo da curva de Phillips de longo prazo para um ponto como o 1.
Cada curva de Phillips de curto prazo é construída, mantendo a taxa esperada de inflação constante para uma taxa natural de desemprego específica.
Quando um Banco Central inesperadamente diminui a taxa de crescimento da oferta de dinheiro para reduzir a inflação, o efeito inicial é a diminuição da oferta agregada com o aumento dos salários reais, resultando numa diminuição do PIB e de empregos no curto prazo.
Neste caso, a inflação real é inferior à inflação prevista, e como resultado tem-se um aumento de desemprego. Esta situação é representada por um movimento ao longo da curva de Phillips de curto prazo na figura para um ponto como o 2.
Se a taxa de crescimento da oferta de moeda é mantida reduzida, eventualmente, a nova taxa de inflação mais baixa é corretamente prevista nos contratos de trabalho e a diminuição da oferta agregada e aumento da demanda agregada no curto prazo são tais que a economia permanece num PIB de pleno emprego.
Esta situação está representada como uma mudança na curva de Phillips de curto prazo para a curva PC2. Note que a curva de Phillips de curto prazo intercepta a curva de longo prazo na taxa de inflação esperada. É a diferença, no curto prazo, entre a inflação esperada e a inflação real que conduz a relação entre inflação inesperada e desemprego no curto prazo.